Evans, David Glyn (2022). The Chocolate Makers and the “Abyss of Hell”: Race, Empire and the Role of Visual Propaganda in the Anglo-Portuguese Controversy surrounding Labour Coercion in the “Cocoa Islands” (1901 - 1917) [Tese de doutoramento, NOVA FCSH].
Repositório da NOVA FCSH. https://run.unl.pt/handle/10362/147069
A presente dissertação aborda o escândalo associado ao emprego de mão-de-obra coagida, sistema, esse, que estava generalizado nas colónias de África Ocidental Portuguesa no início do século vinte, nomeadamente nas roças de cacau de São Tomé e Príncipe. A controvérsia, que, durante muito tempo, teve referências quase semanais na imprensa portuguesa e britânica atingiu o seu auge em 1909, com o conhecido boicote à compra de cacau português imposto pelos chocolateiros britânicos Cadbury, Rowntree e Fry e os seus associados alemães, Stollwerck, que nunca viria a ser levantado. Apesar da suspensão, durante três anos, do recrutamento e importação de trabalhadores angolanos para as chamadas “ilhas do cacao”, e a sua repatriação sistemática depois da queda da Monarquia, a campanha humanitária britânica prosseguiu no Parlamento e a Imprensa, intensificando-se até 1912, perante o cenário de negociações anglo-alemães, supostamente secretas, que se destinavam a redistribuição das colónias portuguesas em África. Os anteriores estudos acerca do chamado “Cacau Escravo” deram ênfase à campanha humanitária britânica, ao mesmo tempo subvalorizando a oposição em Portugal contra o sistema de contratação de mão-de-obra e tratando de forma sumária os principais objectivos, muitas vezes escondidos, de quase todos os protagonistas da disputa. Este estudo representa uma tentativa de corrigir o que tem sido a narrativa predominante e de mostrar como uma questão, essencialmente do foro dos direitos humanos, foi explorada de forma pragmática para obter resultados menos altruístas, tanto na Grã-Bretanha como em Portugal. O estudo baseia-se em relatórios e declarações governativos, correspondência diplomática acerca do trabalho contratado em S.Tomé e Príncipe, legislação nacional e colonial acerca da mão-de-obra indígena, artigos, referências e ilustrações de periódicos portugueses e estrangeiros, e artigos de opinião, panfletos e obras de ficcão que exemplificam as atitudes contemporâneas acerca de mão-de-obra contratada e o tratamento das comunidades indígenas das colónias portuguesas de África. Entre as fontes que foram examinadas em pormenor pela primeira vez aqui, enriquecendo o já substancial corpo de matéria de investigação, contam-se fotografias, bilhetes-postais ilustrados, anúncios, slides” de lanterna mágica e filmes documentários que influenciaram a opinião pública na controvérsia e desempenharam um papel significativo no reforço de atitudes racistas.