Esclarecimento à nação sobre a situação na universidade; os acontecimentos de 17 de Abril de 1969; objectivos da luta estudantil.
Associação Académica de CoimbraDetenção pela PIDE de Valentim Alexandre; medidas de protesto para exigir a sua libertação.
Associação Académica de CoimbraDenúncia de métodos violentos e ilegais usados pela Polícia Judiciária na detenção de estudantes.
Associação Académica de CoimbraAgitação social: greve geral em Lisboa, de solidariedade com os trabalhadores rurais alentejanos
Azevedo, Narciso José da Silva.Comunicado sobre a suspensão da direcção da AAC.
Associação Académica de CoimbraEsta secção abrange, para além da AAC: Conselho das Repúblicas, .....
Associação Académica de CoimbraContém documentação da AAC e também do Conselho das Repúblicas.
Associação Académica de CoimbraTem uma anotação (de Pinto Quartin?) a dizer "Ofereci-lhe livros"
Transcrição:
Estimado Camarada
Pinto Quartim
Acusamos receber vossa carta, e junto os três magníficos clichês, e quando nos propunhamos a responder, recebemos vossa segunda carta com os restantes clichês. Principiarei com a resposta, que já constitui lugar comum: "a nossa bibliografia" está de parabéns com o envio dos clichês, valiosos. documentários para seu engrandecimento. Ficamos muito satisfeitos, porque nos vieram pôr, em contacto com um passado já distante do nosso movimento. Admirámos a maneira simples e clara como se expunha ao povo as nossas ideias. Em primeiro lugar, retribuo-lhe em. nome dos camaradas de Coimbra, os desejos dum ano feliz e alegre, cheio de felicidades em companhia dos entes que lhe são mais queridos. Pelos folhetos A Revolução Anarquista em Portugal, verificámos que, de 1870 a 1877, já houve actividade anarquista no nosso país, e por consequência devia haver coisas impressas, mas nada possuímos dessa época — a não ser o folheto de Kropotkine, que vem no clichê. Pelo cliché de A Revolta tomámos nota de mais um jornal anarquista — — O Rebelde - que se fundiu com Revolta. A propósito, lemos no jornal anarquista - A Verdade — de Coimbra, 1903, que em breve apareceria em Lisboa, um outro jornal anarquista — Terra Livre. Não tem conhecimento ? E ainda duma revista Luz e Vida ? E para fechar a interminável série de perguntas que lhe temos feito, não terá igualmente conhecimento da publicação em Lisboa, aí por 1920, dum jornal com o título A Voz da Razão ? O livro de Pedro Esteve, desconhecíamos a sua existência. A Voz Acusadora de Faure, publicou-se no Barreiro, em manifesto. Ainda sobre as obras de Emílio Costa, temos conhecimento de dois livros dele sobre Réclus. Um editado pela "Seara Nova" que li e creio ter sido em 1933. O outro Figuras do Social, não será anterior a esse ? Por descuido nosso inutilizou-se o verbete do folheto Pela Educação e pelo Trabalho, de Adelino Pinho. Queira ter o incómodo de o repetir. Desculpe tanta maçada. Acabamos de receber do C.R.I.A. uma circular (dirigida a todos os países, é claro) pedindo para ultimar em 1952 as bibliografias. Vamos concluir o nosso trabalho, e empregar todos os esforços para ser feito à máquina - um [...] difícil, porque todo o mundo tem medo. Manuscrito ou dactilografado, será destinado um exemplar para o camarada, afim de apreciar o trabalho — notas, prefácio - e todo O seu — conjunto. Por hoje receba o estimado camarada, fraternais saudações de todos os libertários de Coimbra, com a maior estima do amigo
José de Almeida
P.S. — Nunca lemos os-dois folhetos de Gonçalves Viana, mas temos a impressão que deve citar várias publicações anarquistas anteriores a 1877, isto é, desde 1870. Se não fosse incómodo demasiado, o camarada passaria uma "vista de olhos" aos folhetos, e tiraria os apontamentos de que por lá existisse. Ou no caso de os seus afazeres, não lhe permitirem esse trabalho, ceder-nos-ia os folhetos, que enviaríamos breve junto com os jornais em minha posse. Teríamos interesse em pesquisar esses anos, para saber o que se tinha publicado do nosso movimento
José de Almeida
Transcrição:
Estimado Camarada
Pinto Quartim
Com grata satisfação acuso receber sua carta bem como as duas anteriores contendo preciosos elementos para à bibliografia que estamos propagando, de que o camarada tem sido O melhor cooperador. Nem outra coisa seria de esperar, em atenção que o camarada dedicou o melhor da sua vida a esta grande e generosa cruzada de libertação humana, em que uma parcela do mundo das pessoas anda empenhada. Tomei nota de todas as suas respostas e observações às nossas cartas anteriores, o que agradecemos a sua atenção. No pedido que nos foi dirigido de Paris, pela C.R.I.A., para organizar a bibliografia, diziam: "que devíamos coligir todas as obras em que predominasse a in fluência anarquista, ou mesmo as de combate e crítica às ideias anarquistas". Por este motivo, nós procuramos citar as obras pedagógicas de Adolfo Lima, já escritas à luz do pensamento libertário, o mesmo sucedendo com certas obras de Emílio Costa e Campos Lima. Enquanto a Tolstoi, tencionamos publicar só algumas obras —- não romances - — onde ele revela mais o seu pensamento anarquista. Seremos rigorosos na selecção e faremos uma nota explicativa sobre as suas ideias. Seguindo, ainda, o critério do C.R.I.A., citaremos na bibliografia certos jornais de classe, que seguiam a orientação do sindicalismo libertário fortemente influenciado pelos anarquistas. No número desses jornais, contando O Corticeiro, O Construtor, O Sindicalista, O Trabalhador Rural e o Trabalho, da Covilhã. Da Conquista do Pão, de Kropotkin já possuímos nota das 2 edições anteriores à 3a edição que nos enviou, o mesmo sucedendo com a Sociedade Moribunda de Grave. Não nos poderia informar da data em que se publicou o diário - Avante! — —dirigido por José Carlos de Sousa? Continuamos a coligir-todos os elementos possíveis para conclusão do nosso trabalho. Agradecemos o envio sobre literatura e teatro. O informe que nos forneceu sobre a obra - O Proletariado Histórico, vinha incompleto, pois só trazia a nota do tradutor e titular dos capítulos. Não seria possível enviar a data, localidade e grupo ou casa editora? Agora outro assunto, que consiste num pedido particular que se refere aos dois jornais O Despertar e Vida Livre de Coimbra, de que lhe falei na última carta. Estes dois jornais estão ligados a certos factos, do início da minha vida na luta anarquista - há mais de 40 anos - e tinha especial interesse em os rever, porque "recordar é viver", e nesta conformidade, desejaria que o camarada mos cedesse por empréstimo, com a garantia da sua devolução em certo espaço de tempo. Era uma fineza pela qual lhe ficaria muito grato. Conforme os seus desejos, suspendo o envio dos jornais, porém, ainda lhe envio o desta semana, afim de ler o artigo sobre o camarada Hem Day, um dos maiores animadores das bibliografias. Termino agradecendo a sua valiosa cooperação ao nosso trabalho, como também as nossas desculpas pela enorme maçada que tem tido com os nossos constantes pedidos. Aceite sinceras saudações de todos os camaradas de Coimbra, e um abraço espiritual do amigo e camarada, que por tudo lhe está muito grato.
José de Almeida
A carta em si não tem data, mas o envelope atribuído indica 27.11.52
José Pacheco Pereira atribui esta carta como anexo à carta do 10-09-1952 (PT-AHS-ICS-PQ-CP-003-01), no Boletim de Estudos Operários Nº4
Transcrição parcial:
Os camaradas da "Comissão de Paris" na circular que nos enviaram, pedem-nos para mencionar na bibliografia as obras que mais se tem salientado no combate ao anarquismo. Nestas condições encontramos O Anarquismo.de António Serpa Pimentel, que além de escritor, julgamos ter sido ministro da Monarquia, mas que no seu livro é honesto na crítica ao anarquismo, salientando por vezes a sua superioridade. Os camaradas da Comissão Local, pedem para consultar o camarada Quartim, se é sua opinião que as obras de Tolstoi devem figurar na bibliografia. Temos apontados os livros seguintes: A próxima Revolução, A Escravidão Moderna, Ao Clero, Últimas Palavras, Único Meio e A Paz e a Guerra, que salientam O seu combate à autoridade, ao Estado e ao militarismo, mas fortemente eivadas da mística religiosa tolstoiana.
José de Almeida
P.S. Se possuir Figuras do Social, de Emílio Costa, indique-nos a data da sua publicação.
Estimado Camarada
Pinto Quartim
Acusamos receber suas duas últimas cartas, pelo que lhe ficamos muito gratos, dado o interesse que manifesta pela nossa iniciativa. Agradecemos os preciosos elementos que nos acaba de enviar, alguns deles de existência desconhecida para nós, que vêm dar um maior relevo à bibliografia que estamos organizando. Aguardamos Os novos elementos que nos possa fornecer, não esquecendo os livros de Adolfo Lima, "Colecção Sociológica", jornais, que decerto deve possuir na estante da sua biblioteca. De Emílio Costa, em caso de possuir, desejaríamos o informe do ano e casa editora dos seus livros - Karl Marx, Jaurés, e Acção Directa e Acção Legal, e Eliseu Reclus - edição da "Seara Nova". Informação sobre O Terror na Rússia, de Kropotkine, Almanaque da Aurora, ano de publicação; Como Educar e Doze provas de inexistência de Deus, de S. Faure; Princípios e Fins do Programa Comunista — Anarquista de José Oiticica, e por último, O Sindicalismo em Portugal, de M. J. de Sousa. Só agora, pela sua carta fiquei sabendo, que, o pseudónimo de Alfredo Guerra, era do Miguel Cordoba — esse grande lutador que foi das nossas ideias em Portugal. Renovando o pedido ao camarada da nossa última carta de, caso possuir repetidos folhetos - Como não ser anarquista, Entre Camponezes e Georgicas - O favor da sua cedência para fins de propaganda:
Outro favor, agradecíamos que O camarada nos satisfizesse, no qual temos o maior empenho. Nos jornais anunciados na bibliografia da Terra Livre, São mencionados dois jornais de Coimbra, que decerto possuirá nas suas colecções —- Vida Livre e Despertar - ao todo 8 números, que temos imenso interesse em consultar, pelo que lhe pedimos a sua cedência, cuja devolução garantimos dentro de poucos dias. Dado o nosso interesse na consulta destes jornais, agradecemos a satisfação desse pedido. Já possuímos cerca de 300 publicações apontadas para a obra bibliográfica. Todas as notas que acompanham os seus informes, serão publicadas.
Aceite o estimado camarada, abraços espirituais de todos os libertários de Coimbra.
José de Almeida
Estimado Camarada
Pinto Quartim
Só hoje me-foi possível acusar a recepção da sua última carta, bem como os novos informes para a bibliografia, que mais uma vez agradecemos. Há aqui em Coimbra três camaradas que têm interesse e desejam adquirir os seus livros, dando preferência aos 300 Contos. Agradecíiamos.ao amigo, de nos indicar uma livraria de Lisboa, para onde possa ser feito o seu pedido. Todos, que têm lido os livros, ficam profundamente impressionados com a sua objectividade moral; alguns dos nossos camaradas têm-nos lido às suas companheiras, em especial Mulheres. Voltando ao assunto da bibliografia, somos da opinião que não deve tirar o cliché de A Revolução Social, em consideração que não é justo o seu sacrifício material, porquanto já basta o precioso auxílio que nos tem prestado, para o bom êxito da nossa iniciativa. Estamos muito satisfeitos e gratos pela sua valiosa cooperação, que revela bem o seu amor e dedicáção à causa anarquista. Fazemos-lhe mais as seguintes perguntas: Bento Mântua, era anarquista e o seu teatro será a projecção das nossas ideias ? Nunca lemos nada da sua autoria, se bem que confiamos no camarada. Outra pergunta, sobre a nota que nos enviou há dias do livro A nossa resposta ao Papa, de Boukharine. Alguns camaradas têm a impressão, que se trata de propaganda russa. Se leu o livro, o camarada dirá algo sobre o assunto. As peças de Octave Mirbeau, que trazem a nota "in-Sementeira", foram só publicadas nessa revista, ou foram também publicadas em separata? Se foram só insertas na Sementeira, não devem figurar na bibliografia.
Aceite o estimado camarada fraternas saudações de todos os amigos de Coimbra, um abraço especial do Almeida Costa e do camarada amigo
José de Almeida
Transcrição:
Estimado Camarado
Pinto Quartim
Acuso receber a sua prezada carta de há dias, a cujos assuntos asso a responder. Em primeiro lugar, os camaradas agradecendo-lhe reconhecidos a oferta dos livros, porquanto a sua leitura pelo fundo moral do seu conteúdo, lhes foi bastante agradável, daí o desejo de os adquirir. Como anteriormente já lhe tinha dito, temos o maior interesse no facsimile da Revolução Social, por ser o primeiro jornal anarquista publicado em Portugal, simplesmente não desejaríamos estar a sobrecarregar o camarada materialmente, porque já basta a valiosa cooperação que nos tem prestado. O folheto mais antigo que temos mencionado na bibliografia é: Da Propriedade, do Dr. Eduardo Maia, que mais tarde publicou A Autoridade e a Anarquia. Data 1873. Além deste seguem-se alguns de Kropotkine, Hamon, etc., mas talvez, o mais interessante seria o fac-simile dos folhetos de Gonçalves Viana, a saber: A Evolução Anarquista em Portugal , Anátema e Derrocada. Figuram ainda como dos primeiros - o processo dos anarquistas de Lisboa — 1888; A Sociedade Futura — 1891; Os Mártires de Chicago - 1893; Os Mártires do Porvir - 1893; estes dois últimos editados pelo grupo "Revolução Social". Manifestos - mais antigos mencionados, temos: Manifesto do Grupo Comunista — Anarquista de Lisboa - Aos trabalhadores de Portugal - 1888; Manifesto dos Trabalhadores - assinado por um grupo de rolheiros comunistas anarquistas do Poço do Bispo — 1889; Manifesto dos anarquistas dos oprimidos - pelos anarquistas do Porto - sem data —, mas deve ter sido publicado em 1888 a 89; Circular do Grupo Revolucionário Comunista — Anarquista - 1891; Aos Grupos e Associações Operárias em geral, pelo Grupo Revolucionário Anarquista 11 de Novembro — 1891. Seria interessante, se os possuir, um clichê destes dois documentos, hoje raríssimos. Manifesto dos grupos anarquistas aos trabalhadores portugueses. Editado pelos grupos anarquistas portugueses. Impresso em Barcelona na imprensa de El Produtor — 1891. Tão bem como nós, o camarada saberá fazer a selecção destas publicações para os clichês, que de facto mais valorizam a bibliografia que estamos elaborando. Como já anteriormente lhe tinha dito, os camaradas do C.R.I.A., na sua correspondência, diziam-nos para incluir na bibliografia tudo quanto indicasse actividade dos anarquistas, e ainda, as obras de crítica e combate ao anarquismo. Foi essa a razão que nos levou a incluir obras, jornais e manifestos do próprio sindicalismo onde predominasse o espírito libertário e que tenha feito sentir a acção dos anarquistas. Extraindo do nosso trabalho, futuros camaradas, farão a bibliografia netamente anarquista.
Aceite caro camarada saudações de todos 0s amigos de Coimbra, e um especial abraço do Almeida Costa e do camarada dedicado que é o
José de Almeida