Divulgação sobre Deolinda Lopes Vieira, da sua relação com o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, com base num postal e em algumas publicações salvaguardadas no Espólio Pinto Quartin; bem como de publicações recentes sobre as suas actividades. Texto de Inês Ponte
Transcrição:
Estimado Camarada Pinto Quartim
Que tenha regressado de saúde do seu estágio a reconfortar energias, são os melhores desejos dos libertários de Coimbra.
Acuso receber sua grata carta, escrita antes da sua partida, e junto Terra Livre cuja oferta agradecemos reconhecidamente, já porque nos veio reviver todo esse glorioso passado de luta, já porque veio ser um excelente auxiliar ao trabalho que com êxito contamos levar a efeito.
Temos resolvido tudo, contando já com imenso material informativo e original, mas ainda Longe dum trabalho completo, porque nem todos os velhos camaradas têm correspondido-ao nosso apelo. Escrevi ao velho camarada Amadeu Cardoso da Silva, do Porto, com quem em tempos me tinha correspondido, e recebi a carta devolvida com a dolorosa nota - Falecido. Fiquei profundamente impressionado. Vem a "talhe de foice" dizer ao camarada que só hã quatro anos me encontro em Coimbra, aonde regressei, depois de uma peregrinação de 12 anos e meio pelos cárceres fascistas - incluindo 9 anos e três meses no Campo do Tarrafal - onde tive a infelicidade de assistir à morte de camaradas valorosos como Mário Castelhano e Arnaldo Januário.
Vou entrar no assunto que me levou a escrever a presente carta: pedir ao camarada para nos fornecer todos os esclarecimentos possíveis para bom êxito do nosso trabalho. Decerto, na impossibilidade de nos ceder os jornais, revistas, folhetos e manifestos da infância do anarquismo em Portugal, agradecíamos que nos enviasse os seus títulos, grupos editores e ano de publicação. Em caso de envio de algumas publicações, nós nos responsabilizamos pela sua devolução sem qualquer desvio.
Pelo menos, desejaríamos o envio de um exemplar de cada jornal, porque tencionamos fotografar alguns. Em todo o trabalho que temos realizado, achamos um grande vácuo nas publicações de 1901 a 1910.
Teríamos interesse de consultar Guerra Social e alguns números d'O Protesto das duas séries, ou que nos informasse, se a 2a série do Protesto se publicou após a suspensão da Guerra Social.
Apesar de nesse sentido termos empregado os melhores esforços, não temos conseguido adquirir a colecção de A Sementeira, que seria um excelente elucidário sobre as publicações dessa época.
Como calculámos possuí-las, agradecíamos que nos prestasse os esclareci mentos seguintes: em que ano se publicavam os jornais - A Obra, de Lisboa; O Despertar, do Porto; Novos Horizontes, revista de Lisboa; Pão e Liberdade, jornal publicado pelo falecido camarada Emílio Costa ; Amanhã, porque julgamos errada a data de 1903 mencionada na Terra Livre. Desta revista, teríamos desejo que nos cedesse, por empréstimo, um exemplar afim de fotografar a capa. Igual pedido fazemos da Paz e Liberdade, caso a possuir.
Na bibliografia da Terra Livre, vem mencionados dois jornais sem localidade: O Petardo Anarquista, 1896, e O Agitador, 1885? Tendo ideia, se não estou em erro, de em 1911,se ter publicado-em-Lisboa-um semanário-com o título O Agitador. A Terra Livre, chegou a publicar os folhetos que anunciou - Escola para Operários, de Emílio Costa, e Neo-Maltusianismo, de Gaspar dos Santos? Os postais que publicou eram fotografias de camaradas, ou alegorias sobre o ideal?
Escrevemos à "Livraria Guimarães" para nos elucidar da data em que foram publicados os livros da "Colecção Sociologica",e não obstante ter-lhe enviado a importância para a resposta, não se dignou responder.
Numa lista à parte enviamos esses livros, caso o camarada os possua na sua biblioteca, seria favor pôr-lhe a data, bem como os do camarada Adolfo Lima, que desejamos incluir na bibliografia.
Quantos folhetos editou a "Brochura Social" e quais os seus títulos? Caso o camarada possua alguns folhetos repetidos, do Como não ser anarquista? e Entre Camponezes, agradecíamos o seu envio, agora com o objectivo de propaganda, porque o núcleo libertário luta com falta de literatura para esse fim.
Desculpe o camarada toda esta maçada, mas aproveitando esta tenebrosa época de inactividade, estamos empenhados em realizar um bom trabalho, com a ideia que melhores dias hão-de despontar em Portugal, e daremos então publicidade ao trabalho, num pequeno volume que constituíra um marco de referência para todos os estudiosos que desejem conhecer a história literária do movimento anarquista em Portugal.
Não obstante as dificuldades que nos oferecem em conseguir máquina para a manufactura da bibliografia, se nos fôr possível vencer essa dificuldade, ofereceremos um exemplar ao camarada.
Enviamos junto alguns jornais. Vai o jornal A Obra, da Argentina, de Fevereiro último, que insere as declarações de "Charlot", a que faz referência O número recente de Solidariadad Obrera. La Obra, como toda a numerosa imprensa anarquista argentina, publica-se clandestinamente, devido à ditadura Peron.
Aceite o estimado camarada, abraços espirituais dos libertários de Coimbra, e um especial do professor Almeida Costa
José de Almeida
Almeida, José de.Fontes de vários fundos que o AHS salvaguarda têm potencial para a história da ruralidade portuguesa. O inventário detalhado de documentos de gestão de grandes propriedades latifundiárias, como da Casa Barão de Almeirim (1794-1959) ou da Casa Agrícola da Herdade da Palma (1873-1960) fazem parte do catálogo digital do AHS há algumas décadas. Dedicamos este número a enquadrar algumas outras fontes ligadas à história agrária, mais modestas em tamanho, e relativas a um período mais curto, do final do Estado Novo até ao PREC, mas não menos empolgantes, também em catálogo, para consulta presencial com marcação.
Continuamos a apostar em textos que explorem ora fontes ora um pouco da história do AHS. Contamos neste número com Kátia Favilla, estudante do DANT, e com a usual Escolha do Arquivista por João Pedro Santos, que abordam a extinção dos Grémios da Lavoura após o 25 de abril de 1974, revelando dimensões distintas da investigação que Manuel Lucena coordenou sobre esta, durante o PREC. Oskar Ruschmann escreve sobre o estágio Erasmus+ que fez no AHS, durante o verão, onde a imprensa do final do Estado Novo bem como do PREC lhe deixou impressões fortes sobre história contemporânea portuguesa e da importância de contactar com fontes. Divulgamos novos documentos em acesso livre no fundo de Pinto Quartin PQ), e algumas novidades no catálogo, em acesso livre, ou por consulta presencial.
Temos notícias também ao nível de parcerias de catalogação, sobre imprensa em exilio. Por fim, queremos convidá-los para a finissage da exposição O Pão, A Paz, a Habitação, que conta com o lançamento de Portugal em Mudança, onde António Costa Pinto, doador dos autocolantes que lhe deram o mote, será um dos comentadores. Boas leituras. Inês Ponte
José de Almeida parece ter escrito a data erradamente na carta, com 10. (Outubro) em vez de 11. (Novembro). O envelope indica 14.11.52; a carta foi recebida a 20 de novembro de 1952. O conteúdo desta carta e da carta de 20.10.1952 também apontam para a conclusão que esta carta é de novembro.
José Pacheco Pereira sugere esta teoria no texto dele no Boletim de Estudos Operários Número 4.
Transcrição:
Estimado amigo
e camarada Pinto Quartim
Acabo de receber sua carta, datada de 13, e já antes tinha recebido uma outra datada de 4, à qual não dei resposta imedaita pelo motivo de há dias me encontrar ausente de Coimbra, de visita a família que tenho na Guarda, e só regressei segunda feira, quando me foi entregue sua carta. Fui logo à delegação do Janeiro levantar os jornais e os livros que o amigo me enviou. Não pude fugir à tentação do interesse de ler dum trago os seus dois livros, cuja leitura me deliciou com algumas horas de prazer espiritual. A sua essência é bem uma critica às anomalias da sociedade burguesa; nas suas páginas brilha com fulgor o espírito crítico e combativo do anarquista às injustiças da sociedade. 300 Contos, e Mulheres são duas peças sociais de valor, que vêm enriquecer o teatro social, tão pouco cultivado no nosso país. Neste aspecto são ricos os camaradas brasileiros. Depois de os ter lido, já andam com maior interesse a ser lidos por outros camaradas, que se revelam encantados pelo desassombro das suas afirmações contra o pântano em que tanta gente chafurda. Agradeço profundamente a sua dedicatória. Temos, também, recebido os seus informes para o nosso trabalho, que estamos prestes a finalizar. Para findar com a maçada de tantos pedidos que lhe temos feito, agradecíamos, caso lhe seja possível, de nos fornecer sobre os livros que mencionamos de Hamon, que foram publicados após a Grande Guerra. São eles: O Movimento Operário na Grã-Bretanha, A Conferência da Paz e a sua Obra, e As Lições da Guerra Mundial. É claro que podem não ser obras essencial mente anarquistas, mas a sua publicação no nosso país, é sem dúvida fruto da actividade libertária em Portugal. Na bibliografia da Terra Livre, encontramos um livro com um título estranho que nos dá ideia de uma "ronda policial" - Um Chinês em Paris à procura do Comunismo. Conhece o camarada Quartim a essência deste livro, para que possa figurar na bibliografia anarquista? Como acima digo, com estes informes, terminamos as nossas perguntas ao camarada, a quem nos encontramos bastante reconhecidos pela sua valiosa cooperação ao nosso trabalho. Somos da opinião do camarada, de que os folhetos que cita deveriam ser fotografados, bem como A Revolução Social — o primeiro jornal anarquista que se publicou em Portugal. Era esse o nosso desejo, se possuíssemos um só exemplar, mas como consegui-lo ? Como em cartas anteriores lhe disse, foi-nos feito esse pedido pelos camaradas do C.R.I.A. Quanto aos jornais a enviar-lhe, cumpriremos o seu desejo. Estamos sempre a receber as nossas publicações de distintos países, como ainda agora sucedeu, mas só lhe enviaremos os que publiquem assuntos de largo interesse. Agradeço o envio de Vida Livre e Despertar que me fizeram reviver momentos agradáveis. Breve farei a sua devolução. Para terminar, informo-o que o número da minha residência é 11-2º, e não 22, como tem vindo, nas suas duas cartas, o que tem ocasionado o distribuidor da "ala pare" não ter encontrado o destinatário, como verifica pelo bocado do envelope junto. Aceite o camarada as fraternas saudações de todos os camaradas de Coimbra, com um especial abraço de Almeida Costa, e do camarada que o estima e admira
José de Almeida
Almeida, José de.Estimado Camarada
Pinto Quartim
Acusamos receber suas duas últimas cartas, pelo que lhe ficamos muito gratos, dado o interesse que manifesta pela nossa iniciativa. Agradecemos os preciosos elementos que nos acaba de enviar, alguns deles de existência desconhecida para nós, que vêm dar um maior relevo à bibliografia que estamos organizando. Aguardamos Os novos elementos que nos possa fornecer, não esquecendo os livros de Adolfo Lima, "Colecção Sociológica", jornais, que decerto deve possuir na estante da sua biblioteca. De Emílio Costa, em caso de possuir, desejaríamos o informe do ano e casa editora dos seus livros - Karl Marx, Jaurés, e Acção Directa e Acção Legal, e Eliseu Reclus - edição da "Seara Nova". Informação sobre O Terror na Rússia, de Kropotkine, Almanaque da Aurora, ano de publicação; Como Educar e Doze provas de inexistência de Deus, de S. Faure; Princípios e Fins do Programa Comunista — Anarquista de José Oiticica, e por último, O Sindicalismo em Portugal, de M. J. de Sousa. Só agora, pela sua carta fiquei sabendo, que, o pseudónimo de Alfredo Guerra, era do Miguel Cordoba — esse grande lutador que foi das nossas ideias em Portugal. Renovando o pedido ao camarada da nossa última carta de, caso possuir repetidos folhetos - Como não ser anarquista, Entre Camponezes e Georgicas - O favor da sua cedência para fins de propaganda:
Outro favor, agradecíamos que O camarada nos satisfizesse, no qual temos o maior empenho. Nos jornais anunciados na bibliografia da Terra Livre, São mencionados dois jornais de Coimbra, que decerto possuirá nas suas colecções —- Vida Livre e Despertar - ao todo 8 números, que temos imenso interesse em consultar, pelo que lhe pedimos a sua cedência, cuja devolução garantimos dentro de poucos dias. Dado o nosso interesse na consulta destes jornais, agradecemos a satisfação desse pedido. Já possuímos cerca de 300 publicações apontadas para a obra bibliográfica. Todas as notas que acompanham os seus informes, serão publicadas.
Aceite o estimado camarada, abraços espirituais de todos os libertários de Coimbra.
José de Almeida
Exposição temporária, celebratória dos 30 anos do AHS, focada na revista Renovação, editada por Pinto Quartin.
Celebrando também a grande variedade temática e cronológica dos fundos do AHS.
O enfoque é posto nesta «revista quinzenal de arte, literatura e actualidades» publicada pelo jornal anarco-sindicalista A Batalha. A revista teve urna vida curta: saíram 24 números entre 2 de Julho de 1925 e 15 de Junho de 1926. Contou com a participação de destacados colaboradores, entre os quais Ferreira de Castro, Bento Faria, Eduardo Frias, Mário Domingues, Ladislau Batalha, Rocha Martins e Julião Quintinha. O último número saiu um mês antes do estabelecimento da censura prévia à imprensa.
Apresentação: Manuel Villaverde Cabral e Anne Cova
Texto: João Freire
Coordenação: Rita Almeida de Carvalho
A exposição teve lugar na sala 3 do ICS. Curadoria cientifica de Rita Almeida de Carvalho; Desenho de João Pedro Silva.
Arquivo de História SocialTranscrição:
Estimado Camarada
Pinto Quartim
Com grata satisfação acuso receber sua carta bem como as duas anteriores contendo preciosos elementos para à bibliografia que estamos propagando, de que o camarada tem sido O melhor cooperador. Nem outra coisa seria de esperar, em atenção que o camarada dedicou o melhor da sua vida a esta grande e generosa cruzada de libertação humana, em que uma parcela do mundo das pessoas anda empenhada. Tomei nota de todas as suas respostas e observações às nossas cartas anteriores, o que agradecemos a sua atenção. No pedido que nos foi dirigido de Paris, pela C.R.I.A., para organizar a bibliografia, diziam: "que devíamos coligir todas as obras em que predominasse a in fluência anarquista, ou mesmo as de combate e crítica às ideias anarquistas". Por este motivo, nós procuramos citar as obras pedagógicas de Adolfo Lima, já escritas à luz do pensamento libertário, o mesmo sucedendo com certas obras de Emílio Costa e Campos Lima. Enquanto a Tolstoi, tencionamos publicar só algumas obras —- não romances - — onde ele revela mais o seu pensamento anarquista. Seremos rigorosos na selecção e faremos uma nota explicativa sobre as suas ideias. Seguindo, ainda, o critério do C.R.I.A., citaremos na bibliografia certos jornais de classe, que seguiam a orientação do sindicalismo libertário fortemente influenciado pelos anarquistas. No número desses jornais, contando O Corticeiro, O Construtor, O Sindicalista, O Trabalhador Rural e o Trabalho, da Covilhã. Da Conquista do Pão, de Kropotkin já possuímos nota das 2 edições anteriores à 3a edição que nos enviou, o mesmo sucedendo com a Sociedade Moribunda de Grave. Não nos poderia informar da data em que se publicou o diário - Avante! — —dirigido por José Carlos de Sousa? Continuamos a coligir-todos os elementos possíveis para conclusão do nosso trabalho. Agradecemos o envio sobre literatura e teatro. O informe que nos forneceu sobre a obra - O Proletariado Histórico, vinha incompleto, pois só trazia a nota do tradutor e titular dos capítulos. Não seria possível enviar a data, localidade e grupo ou casa editora? Agora outro assunto, que consiste num pedido particular que se refere aos dois jornais O Despertar e Vida Livre de Coimbra, de que lhe falei na última carta. Estes dois jornais estão ligados a certos factos, do início da minha vida na luta anarquista - há mais de 40 anos - e tinha especial interesse em os rever, porque "recordar é viver", e nesta conformidade, desejaria que o camarada mos cedesse por empréstimo, com a garantia da sua devolução em certo espaço de tempo. Era uma fineza pela qual lhe ficaria muito grato. Conforme os seus desejos, suspendo o envio dos jornais, porém, ainda lhe envio o desta semana, afim de ler o artigo sobre o camarada Hem Day, um dos maiores animadores das bibliografias. Termino agradecendo a sua valiosa cooperação ao nosso trabalho, como também as nossas desculpas pela enorme maçada que tem tido com os nossos constantes pedidos. Aceite sinceras saudações de todos os camaradas de Coimbra, e um abraço espiritual do amigo e camarada, que por tudo lhe está muito grato.
José de Almeida
Estimado Camarada
Pinto Quartim
Só hoje me-foi possível acusar a recepção da sua última carta, bem como os novos informes para a bibliografia, que mais uma vez agradecemos. Há aqui em Coimbra três camaradas que têm interesse e desejam adquirir os seus livros, dando preferência aos 300 Contos. Agradecíiamos.ao amigo, de nos indicar uma livraria de Lisboa, para onde possa ser feito o seu pedido. Todos, que têm lido os livros, ficam profundamente impressionados com a sua objectividade moral; alguns dos nossos camaradas têm-nos lido às suas companheiras, em especial Mulheres. Voltando ao assunto da bibliografia, somos da opinião que não deve tirar o cliché de A Revolução Social, em consideração que não é justo o seu sacrifício material, porquanto já basta o precioso auxílio que nos tem prestado, para o bom êxito da nossa iniciativa. Estamos muito satisfeitos e gratos pela sua valiosa cooperação, que revela bem o seu amor e dedicáção à causa anarquista. Fazemos-lhe mais as seguintes perguntas: Bento Mântua, era anarquista e o seu teatro será a projecção das nossas ideias ? Nunca lemos nada da sua autoria, se bem que confiamos no camarada. Outra pergunta, sobre a nota que nos enviou há dias do livro A nossa resposta ao Papa, de Boukharine. Alguns camaradas têm a impressão, que se trata de propaganda russa. Se leu o livro, o camarada dirá algo sobre o assunto. As peças de Octave Mirbeau, que trazem a nota "in-Sementeira", foram só publicadas nessa revista, ou foram também publicadas em separata? Se foram só insertas na Sementeira, não devem figurar na bibliografia.
Aceite o estimado camarada fraternas saudações de todos os amigos de Coimbra, um abraço especial do Almeida Costa e do camarada amigo
José de Almeida
Inclui: documento autobiográfico "Retalhos para um «livro de memórias» que não escreverei (sofrimentos e saudades)"; cópia de carta dirigida a Alexandre Vieira; exposição dirigida ao presidente da Assembleia Geral da Sociedade Nacional de Tipografia (O Século); texto autobiográfico dirigido a Julião Quintinha e a Pinto Quartim; texto de Domingos Cruz sobre a Voz do Operário (referências a João Franco e ao almirante Ferreira do Amaral, Manuel de Arriaga, Salvação Barreto, ...).
Cruz, Domingos.A fotografia está dedicada a António Pinto Quartin pela própria.
Benoit, Francine.Transcrição:
Estimado Camarado
Pinto Quartim
Acuso receber a sua prezada carta de há dias, a cujos assuntos asso a responder. Em primeiro lugar, os camaradas agradecendo-lhe reconhecidos a oferta dos livros, porquanto a sua leitura pelo fundo moral do seu conteúdo, lhes foi bastante agradável, daí o desejo de os adquirir. Como anteriormente já lhe tinha dito, temos o maior interesse no facsimile da Revolução Social, por ser o primeiro jornal anarquista publicado em Portugal, simplesmente não desejaríamos estar a sobrecarregar o camarada materialmente, porque já basta a valiosa cooperação que nos tem prestado. O folheto mais antigo que temos mencionado na bibliografia é: Da Propriedade, do Dr. Eduardo Maia, que mais tarde publicou A Autoridade e a Anarquia. Data 1873. Além deste seguem-se alguns de Kropotkine, Hamon, etc., mas talvez, o mais interessante seria o fac-simile dos folhetos de Gonçalves Viana, a saber: A Evolução Anarquista em Portugal , Anátema e Derrocada. Figuram ainda como dos primeiros - o processo dos anarquistas de Lisboa — 1888; A Sociedade Futura — 1891; Os Mártires de Chicago - 1893; Os Mártires do Porvir - 1893; estes dois últimos editados pelo grupo "Revolução Social". Manifestos - mais antigos mencionados, temos: Manifesto do Grupo Comunista — Anarquista de Lisboa - Aos trabalhadores de Portugal - 1888; Manifesto dos Trabalhadores - assinado por um grupo de rolheiros comunistas anarquistas do Poço do Bispo — 1889; Manifesto dos anarquistas dos oprimidos - pelos anarquistas do Porto - sem data —, mas deve ter sido publicado em 1888 a 89; Circular do Grupo Revolucionário Comunista — Anarquista - 1891; Aos Grupos e Associações Operárias em geral, pelo Grupo Revolucionário Anarquista 11 de Novembro — 1891. Seria interessante, se os possuir, um clichê destes dois documentos, hoje raríssimos. Manifesto dos grupos anarquistas aos trabalhadores portugueses. Editado pelos grupos anarquistas portugueses. Impresso em Barcelona na imprensa de El Produtor — 1891. Tão bem como nós, o camarada saberá fazer a selecção destas publicações para os clichês, que de facto mais valorizam a bibliografia que estamos elaborando. Como já anteriormente lhe tinha dito, os camaradas do C.R.I.A., na sua correspondência, diziam-nos para incluir na bibliografia tudo quanto indicasse actividade dos anarquistas, e ainda, as obras de crítica e combate ao anarquismo. Foi essa a razão que nos levou a incluir obras, jornais e manifestos do próprio sindicalismo onde predominasse o espírito libertário e que tenha feito sentir a acção dos anarquistas. Extraindo do nosso trabalho, futuros camaradas, farão a bibliografia netamente anarquista.
Aceite caro camarada saudações de todos 0s amigos de Coimbra, e um especial abraço do Almeida Costa e do camarada dedicado que é o
José de Almeida
Biografia de Pinto Quartin no fascículo 250
Transcrição:
Pinto Quartim
Acuso receber sua prezada carta e junto envio mais alguns informes para o trabalho que estamos realizando, contando já cerca de 400 publicações, devido em grande parte ao esforço e dedicação do camarada. Julgamos a bibliografia que estamos elaborando como muito útil e indispensável para o futuro do movimento libertário português, motivo porque a estamos preparando com entusiasmo e cuidadosamente. Estamos satisfeitos com o conseguimento dos clichês, e se lhe fosse possível, incluiria A Revolta, igualmente da época da Revolução Social. O livro de Pierre Bernard, já o possuíamos, mas sem informes que valorizassem a sua inclusão na bibliografia. Por acaso não terá conhecimento dum folheto ou manifesto — Voz Acusadora - de S. Faure, publicado em 1931 ou 32, em Lisboa ou Barreiro? Temos uma informação da sua saída, mas sem dados suficientes. Também, temos por identificar, os seguintes folhetos: Pela Educação e pelo Trabalho, e Quem não trabalha não come, de Adelino Pinho; O principio do fim, de Ricardo Mela; Maximalismo e Anarquismo, de Josê Lorenzo; Programa Socialista — — Anarquista Revolucionário, de Malatesta; A Liberdade, de B. Lazare, e a edição portuguesa do Evangelho da Hora, de Berthelet. Possuímos só as edições brasileiras. O folheto Da Propriedade, de Eduardo Maia, é efectivamente de 1893. Não possuirá O Petardo Anarquista que nos possa dar dados da sua publicação ? Extraímos a indicação da Terra Livre, mas não traz localidade ou grupo editor. Desculpe toda esta maçada. Dos jornais que nos chegam de diversos países -mais assiduamente do Brasil, México e França, ser-lhe-ão enviados sempre que publiquem algo de maior interesse. Aceite o amigo fraternas. saudações dos camaradas de Coimbra, não esquecendo Almeida Costa, e do camarada dedicado
José de Almeida
P.S. -— Enviei-lhe 2 números da Soli que se ocuparam da entrada da Espanha na "Unesco", que tanto está apaixonando o mundo livre. Vou enviar-lhe outro número com o relato do Comício dos intelectuais de Paris, sobre o assunto. Era favor, caso lhe seja possível, de nos fornecer ainda as seguintes informações: data e grupo editor dos folhetos - A Revolução Social e Sindicalismo, de Archinof; A Três Internacionais Sindicais, de Shapiro. Cremos que estes dois folhetos são da Editorial "Batalha". A felicidade de todos os seres na sociedade futura, de Gonçalves Correia.
Sem mais Jose de Almeida Estimado Camarada
A carta em si não tem data, mas o envelope atribuído indica 27.11.52
José Pacheco Pereira atribui esta carta como anexo à carta do 10-09-1952 (PT-AHS-ICS-PQ-CP-003-01), no Boletim de Estudos Operários Nº4
Transcrição parcial:
Os camaradas da "Comissão de Paris" na circular que nos enviaram, pedem-nos para mencionar na bibliografia as obras que mais se tem salientado no combate ao anarquismo. Nestas condições encontramos O Anarquismo.de António Serpa Pimentel, que além de escritor, julgamos ter sido ministro da Monarquia, mas que no seu livro é honesto na crítica ao anarquismo, salientando por vezes a sua superioridade. Os camaradas da Comissão Local, pedem para consultar o camarada Quartim, se é sua opinião que as obras de Tolstoi devem figurar na bibliografia. Temos apontados os livros seguintes: A próxima Revolução, A Escravidão Moderna, Ao Clero, Últimas Palavras, Único Meio e A Paz e a Guerra, que salientam O seu combate à autoridade, ao Estado e ao militarismo, mas fortemente eivadas da mística religiosa tolstoiana.
José de Almeida
P.S. Se possuir Figuras do Social, de Emílio Costa, indique-nos a data da sua publicação.
texto de divulgação do acervo do AHS, sobre postal de natal enviado pela escritora e jornalista Sara Beirão ao seu amigo jornalista Pinto Quartin, por Joana Bénard da Costa, revisão de Rita Almeida de Carvalho.
O postal é enviado a partir de Tábua (Coimbra), onde nasceu e residiu Sarah Beirão, a qual se destacou também pelo seu empenhamento na causa republicana e na defesa dos direitos das mulheres. Integrou a Liga Portuguesa da Paz, a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas e o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas. O postal faz parte da correspondência particular do vasto espólio de António Tomás Pinto Quartin e pode ser consultado no Arquivo de História Social. Data 19-12-1951.
Cota: Arquivo de História Social-ICS/ULisboa, Espólio de Pinto Quartin, PT-AHS-ICS-PQ-CP-023-1.
Mensário, Órgão e Propriedade da Associação de Classe dos Compositores Tipógrafos. Contém: Ano III, nº15; dez. 1932.
Editor: LYSTER FRANCO
alguns artigos assinados: Alexandre Vieira, Lopes de Carvalho, entre outros.
artigo de Pinto Quartin: "Pode a arte gráfica ser considerada como uma das belas artes?"
Documentário sobre a actriz Glicínia Quartin por ocasião do seu 80º aniversário. A sua família, o anarco-sindicalismo, a Escola-Oficina nº 1, as leituras em casa dos pais, as prisões, o Mud Juvenil, os teatros experimentais, os surrealistas, o encontro com José Ernesto de Sousa e o desabrochar do Cinema Novo com “Dom Roberto”, a Itália, a fantasia, Beckett, Genet, Vitor Garcia, o encontro com Luís Miguel Cintra – uma vida em movimento.
"Gosto tanto de a ouvir falar, à Glicínia. Mas não queria que ela falasse só comigo. Por isso fiz este filme, para partilhar as minhas conversas com Glicínia Quartin."
Jorge Silva Melo
"Não sei do que gosto mais, se de ouvir o que pensa (que não pára de pensar), se de a ouvir contar tanta vida que viveu (que não sabe estar parada sem viver), se de a ver brincar (que a vida para ela tem de ser festa). Gosto de a ver representar: pensa, mexe-se, brinca, imagina e enquanto representa conta coisas que conhece do que viu nos outros. Conversa, de facto (“não achas?”, “lembras-te?”, “e tu?”, “quero perguntar-te uma coisa”), curiosa de mim, de ti, de todos os outros e de todas as coisas, firme no que decide e a querer saber o que o outro quer, sempre a pedir esse “tu”. Inventa-se e inventa espaço. Transporta a alegria. Sem peso. Sempre em movimento. Porque vive em sedução. E porque ama como ninguém a sua e a minha e a tua e a nossa liberdade. Há mais actriz? Há mais pessoa? Melhor amiga?"
Luís Miguel Cintra
Realização de Jorge Silva Melo. Produção Artistas Unidos. 55 minutos. O Documentário teve exibição comercial, e passou na RTP
Gomes, S. P. A. R. (2012). O esperantismo em Portugal (1892 a 1972): origens, afirmação e repressão [Dissertação de mestrado, Iscte - Instituto Universitário de Lisboa]. Repositório do Iscte. http://hdl.handle.net/10071/5177
O surgimento e afirmação do esperantismo em Portugal é o tema desta dissertação, tendo-se delimitado o estudo ao período temporal entre 1892, ano da primeira publicação sobre a língua Esperanto em Portugal, e 1972, ano em que o Estado Novo permitiu a refundação da Associação Portuguesa de Esperanto. Organizado inicialmente nos centros urbanos de Lisboa e Porto, os primeiros cultores do Esperanto tinham origem numa pequena burguesia progressista, orientados por interesses comerciais, cosmopolitas e pacifistas. A partir do período da 1.ª Guerra Mundial o esperantismo estende-se ao operariado, que em grande medida o cultiva de forma politizada, o que trará a partir da década de 1930 uma resposta repressiva por parte da ditadura. Desta data até 1972 o esperantismo viverá décadas de ambígua e intermitente implantação, ora com liberdade e autonomia, ora com proibições e perseguições. A investigação pretendeu abranger duas dimensões. Primeiro, perceber em que medida o esperantismo português se compara com o movimento internacional, de génese europeia e por isso modelado pelas complexidades da história do século XX. Depois, sendo uma investigação enquadrada na área da Museologia procedeu-se, em paralelo com a reconstituição histórica, a um recenseamento de objectos passível de apresentar expositivamente o percurso do esperantismo português no período em análise.