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O Concurso Público que Eça de Queirós não ganhou
PT/AHS-ICS/MFM-AI-4 · Série · 1870 - 1871
Parte de Colecção Maria Filomena Mónica

O concurso público para o lugar de cônsul de Portugal no estrangeiro, o primeiro a realizar-se em novos moldes, tem interesse a vários títulos. Desde logo, pela filosofia, meritocrática, que subjaz ao diploma de 18 de Dezembro de 1870, e, depois, pelos candidatos que a ele se submeteram, de que o mais famoso é certamente Eça de Queirós. Além do texto integral do decreto, incluem-se aqui muitos outros documentos, a maior parte dos quais inéditos, bem com o original e a respectiva transcrição (feita por Maria José Marinho e por Maria Isabel Soares) da prova teórica a que Eça, juntamente com sete outros candidatos, se submeteu no Ministério dos Negócios Estrangeiros, a 24 de Setembro de 1870.

Como se sabe, Eça viria a protestar contra o facto de ter sido supostamente preterido - ficaria em segundo lugar - num artigo que viria a publicar em «As Farpas», de Novembro de 1871, no qual invocou ter sido alvo de perseguição política. Como tentámos provar num texto ao tema dedicado, as coisas foram mais complicadas do que ele nos quis fazer crer .

Apesar dos esforços de Mendes Leal, para que o concurso fosse honesto, os «empenhos» sobre os membros do júri não tardaram a aparecer. Num país de camponeses analfabetos, onde as classes médias viviam coladas ao Estado, um concurso público dificilmente poderia ser isento. No caso que analisámos, os candidatos sobre os quais mais documentos possuímos, Eça de Queirós e Jaime Batalha Reis, consideravam que meter «cunhas» era a coisa mais natural do mundo. Mas nem tudo foi vergonhoso. Se o júri tivesse desejado colocar, desde o início, o filho do Conde da Ponte em primeiro lugar, nada mais simples do que atribuir-lhe, nas provas, uma qualificação mais elevada do que a que conferiu a Eça de Queirós. No entanto, não foi isso que fez. O mais provável é não ter obtido Eça o posto na Baía por não possuir experiência administrativa: um dia não chegava, de facto, como qualificação. O que não o impediu de relatar, em As Farpas, aquela história sobre uma misteriosa «cunha» feminina, a que acrescentou uma misteriosa perseguição política. Em suma, os génios literários não devem ser tomados à letra.
Maria Filomena Mónica

O Senhor Ávila e os conferencistas do Casino: artigo
PT/AHS-ICS/DIV-02B-2001 · Item · 2001
Parte de A Divulgação AHS/ICS-ULISBOA

Mónica, M. F. (2001). O Senhor Ávila e os conferencistas do Casino. Análise Social, 35(157), 1013–1030. https://doi.org/10.31447/AS00032573.2001157.06

Passados mais de cem anos, é tempo de olhar a polémica sobre o encerramento das «conferências do Casino» com frieza. Os jovens da «geração de 1870» não se deslocaram ao Chiado apenas para nos deixarem o retrato da pátria: fizeram-no para abalarem o regime. Ergueu-se-lhes pela frente a figura pesada do marquês de Ávila. A posteridade passou a considerar os jovens uns inocentes cordeiros e o presidente do Conselho um Calígula. O que se passou foi mais complexo.