«Diário» de Leal Marques sobre a formação do primeiro governo de Salazar, por Fátima Patriarca – apresentação, Análise Social, Vol. XLI (1.º), 2006 (n.º 178), pp. 169-222: http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1292586680B6rEQ0vz0Ul94UZ1.pdf
Estudo crítico sobre diversos aspectos de Angola.
Breves apontamentos etnográficos sobre os povos de Angola para o XX Concurso de Literatura Colonial – 2ª Secção.
Transcrição:
Estimado Camarada
Pinto Quartim
Acusamos receber vossa carta, e junto os três magníficos clichês, e quando nos propunhamos a responder, recebemos vossa segunda carta com os restantes clichês. Principiarei com a resposta, que já constitui lugar comum: "a nossa bibliografia" está de parabéns com o envio dos clichês, valiosos. documentários para seu engrandecimento. Ficamos muito satisfeitos, porque nos vieram pôr, em contacto com um passado já distante do nosso movimento. Admirámos a maneira simples e clara como se expunha ao povo as nossas ideias. Em primeiro lugar, retribuo-lhe em. nome dos camaradas de Coimbra, os desejos dum ano feliz e alegre, cheio de felicidades em companhia dos entes que lhe são mais queridos. Pelos folhetos A Revolução Anarquista em Portugal, verificámos que, de 1870 a 1877, já houve actividade anarquista no nosso país, e por consequência devia haver coisas impressas, mas nada possuímos dessa época — a não ser o folheto de Kropotkine, que vem no clichê. Pelo cliché de A Revolta tomámos nota de mais um jornal anarquista — — O Rebelde - que se fundiu com Revolta. A propósito, lemos no jornal anarquista - A Verdade — de Coimbra, 1903, que em breve apareceria em Lisboa, um outro jornal anarquista — Terra Livre. Não tem conhecimento ? E ainda duma revista Luz e Vida ? E para fechar a interminável série de perguntas que lhe temos feito, não terá igualmente conhecimento da publicação em Lisboa, aí por 1920, dum jornal com o título A Voz da Razão ? O livro de Pedro Esteve, desconhecíamos a sua existência. A Voz Acusadora de Faure, publicou-se no Barreiro, em manifesto. Ainda sobre as obras de Emílio Costa, temos conhecimento de dois livros dele sobre Réclus. Um editado pela "Seara Nova" que li e creio ter sido em 1933. O outro Figuras do Social, não será anterior a esse ? Por descuido nosso inutilizou-se o verbete do folheto Pela Educação e pelo Trabalho, de Adelino Pinho. Queira ter o incómodo de o repetir. Desculpe tanta maçada. Acabamos de receber do C.R.I.A. uma circular (dirigida a todos os países, é claro) pedindo para ultimar em 1952 as bibliografias. Vamos concluir o nosso trabalho, e empregar todos os esforços para ser feito à máquina - um [...] difícil, porque todo o mundo tem medo. Manuscrito ou dactilografado, será destinado um exemplar para o camarada, afim de apreciar o trabalho — notas, prefácio - e todo O seu — conjunto. Por hoje receba o estimado camarada, fraternais saudações de todos os libertários de Coimbra, com a maior estima do amigo
José de Almeida
P.S. — Nunca lemos os-dois folhetos de Gonçalves Viana, mas temos a impressão que deve citar várias publicações anarquistas anteriores a 1877, isto é, desde 1870. Se não fosse incómodo demasiado, o camarada passaria uma "vista de olhos" aos folhetos, e tiraria os apontamentos de que por lá existisse. Ou no caso de os seus afazeres, não lhe permitirem esse trabalho, ceder-nos-ia os folhetos, que enviaríamos breve junto com os jornais em minha posse. Teríamos interesse em pesquisar esses anos, para saber o que se tinha publicado do nosso movimento
José de Almeida
A carta em si não tem data, mas o envelope atribuído indica 27.11.52
José Pacheco Pereira atribui esta carta como anexo à carta do 10-09-1952 (PT-AHS-ICS-PQ-CP-003-01), no Boletim de Estudos Operários Nº4
Transcrição parcial:
Os camaradas da "Comissão de Paris" na circular que nos enviaram, pedem-nos para mencionar na bibliografia as obras que mais se tem salientado no combate ao anarquismo. Nestas condições encontramos O Anarquismo.de António Serpa Pimentel, que além de escritor, julgamos ter sido ministro da Monarquia, mas que no seu livro é honesto na crítica ao anarquismo, salientando por vezes a sua superioridade. Os camaradas da Comissão Local, pedem para consultar o camarada Quartim, se é sua opinião que as obras de Tolstoi devem figurar na bibliografia. Temos apontados os livros seguintes: A próxima Revolução, A Escravidão Moderna, Ao Clero, Últimas Palavras, Único Meio e A Paz e a Guerra, que salientam O seu combate à autoridade, ao Estado e ao militarismo, mas fortemente eivadas da mística religiosa tolstoiana.
José de Almeida
P.S. Se possuir Figuras do Social, de Emílio Costa, indique-nos a data da sua publicação.
Estimado Camarada
Pinto Quartim
Acusamos receber suas duas últimas cartas, pelo que lhe ficamos muito gratos, dado o interesse que manifesta pela nossa iniciativa. Agradecemos os preciosos elementos que nos acaba de enviar, alguns deles de existência desconhecida para nós, que vêm dar um maior relevo à bibliografia que estamos organizando. Aguardamos Os novos elementos que nos possa fornecer, não esquecendo os livros de Adolfo Lima, "Colecção Sociológica", jornais, que decerto deve possuir na estante da sua biblioteca. De Emílio Costa, em caso de possuir, desejaríamos o informe do ano e casa editora dos seus livros - Karl Marx, Jaurés, e Acção Directa e Acção Legal, e Eliseu Reclus - edição da "Seara Nova". Informação sobre O Terror na Rússia, de Kropotkine, Almanaque da Aurora, ano de publicação; Como Educar e Doze provas de inexistência de Deus, de S. Faure; Princípios e Fins do Programa Comunista — Anarquista de José Oiticica, e por último, O Sindicalismo em Portugal, de M. J. de Sousa. Só agora, pela sua carta fiquei sabendo, que, o pseudónimo de Alfredo Guerra, era do Miguel Cordoba — esse grande lutador que foi das nossas ideias em Portugal. Renovando o pedido ao camarada da nossa última carta de, caso possuir repetidos folhetos - Como não ser anarquista, Entre Camponezes e Georgicas - O favor da sua cedência para fins de propaganda:
Outro favor, agradecíamos que O camarada nos satisfizesse, no qual temos o maior empenho. Nos jornais anunciados na bibliografia da Terra Livre, São mencionados dois jornais de Coimbra, que decerto possuirá nas suas colecções —- Vida Livre e Despertar - ao todo 8 números, que temos imenso interesse em consultar, pelo que lhe pedimos a sua cedência, cuja devolução garantimos dentro de poucos dias. Dado o nosso interesse na consulta destes jornais, agradecemos a satisfação desse pedido. Já possuímos cerca de 300 publicações apontadas para a obra bibliográfica. Todas as notas que acompanham os seus informes, serão publicadas.
Aceite o estimado camarada, abraços espirituais de todos os libertários de Coimbra.
José de Almeida
Estimado Camarada
Pinto Quartim
Só hoje me-foi possível acusar a recepção da sua última carta, bem como os novos informes para a bibliografia, que mais uma vez agradecemos. Há aqui em Coimbra três camaradas que têm interesse e desejam adquirir os seus livros, dando preferência aos 300 Contos. Agradecíiamos.ao amigo, de nos indicar uma livraria de Lisboa, para onde possa ser feito o seu pedido. Todos, que têm lido os livros, ficam profundamente impressionados com a sua objectividade moral; alguns dos nossos camaradas têm-nos lido às suas companheiras, em especial Mulheres. Voltando ao assunto da bibliografia, somos da opinião que não deve tirar o cliché de A Revolução Social, em consideração que não é justo o seu sacrifício material, porquanto já basta o precioso auxílio que nos tem prestado, para o bom êxito da nossa iniciativa. Estamos muito satisfeitos e gratos pela sua valiosa cooperação, que revela bem o seu amor e dedicáção à causa anarquista. Fazemos-lhe mais as seguintes perguntas: Bento Mântua, era anarquista e o seu teatro será a projecção das nossas ideias ? Nunca lemos nada da sua autoria, se bem que confiamos no camarada. Outra pergunta, sobre a nota que nos enviou há dias do livro A nossa resposta ao Papa, de Boukharine. Alguns camaradas têm a impressão, que se trata de propaganda russa. Se leu o livro, o camarada dirá algo sobre o assunto. As peças de Octave Mirbeau, que trazem a nota "in-Sementeira", foram só publicadas nessa revista, ou foram também publicadas em separata? Se foram só insertas na Sementeira, não devem figurar na bibliografia.
Aceite o estimado camarada fraternas saudações de todos os amigos de Coimbra, um abraço especial do Almeida Costa e do camarada amigo
José de Almeida
Transcrição:
Pinto Quartim
Acuso receber sua prezada carta e junto envio mais alguns informes para o trabalho que estamos realizando, contando já cerca de 400 publicações, devido em grande parte ao esforço e dedicação do camarada. Julgamos a bibliografia que estamos elaborando como muito útil e indispensável para o futuro do movimento libertário português, motivo porque a estamos preparando com entusiasmo e cuidadosamente. Estamos satisfeitos com o conseguimento dos clichês, e se lhe fosse possível, incluiria A Revolta, igualmente da época da Revolução Social. O livro de Pierre Bernard, já o possuíamos, mas sem informes que valorizassem a sua inclusão na bibliografia. Por acaso não terá conhecimento dum folheto ou manifesto — Voz Acusadora - de S. Faure, publicado em 1931 ou 32, em Lisboa ou Barreiro? Temos uma informação da sua saída, mas sem dados suficientes. Também, temos por identificar, os seguintes folhetos: Pela Educação e pelo Trabalho, e Quem não trabalha não come, de Adelino Pinho; O principio do fim, de Ricardo Mela; Maximalismo e Anarquismo, de Josê Lorenzo; Programa Socialista — — Anarquista Revolucionário, de Malatesta; A Liberdade, de B. Lazare, e a edição portuguesa do Evangelho da Hora, de Berthelet. Possuímos só as edições brasileiras. O folheto Da Propriedade, de Eduardo Maia, é efectivamente de 1893. Não possuirá O Petardo Anarquista que nos possa dar dados da sua publicação ? Extraímos a indicação da Terra Livre, mas não traz localidade ou grupo editor. Desculpe toda esta maçada. Dos jornais que nos chegam de diversos países -mais assiduamente do Brasil, México e França, ser-lhe-ão enviados sempre que publiquem algo de maior interesse. Aceite o amigo fraternas. saudações dos camaradas de Coimbra, não esquecendo Almeida Costa, e do camarada dedicado
José de Almeida
P.S. -— Enviei-lhe 2 números da Soli que se ocuparam da entrada da Espanha na "Unesco", que tanto está apaixonando o mundo livre. Vou enviar-lhe outro número com o relato do Comício dos intelectuais de Paris, sobre o assunto. Era favor, caso lhe seja possível, de nos fornecer ainda as seguintes informações: data e grupo editor dos folhetos - A Revolução Social e Sindicalismo, de Archinof; A Três Internacionais Sindicais, de Shapiro. Cremos que estes dois folhetos são da Editorial "Batalha". A felicidade de todos os seres na sociedade futura, de Gonçalves Correia.
Sem mais Jose de Almeida Estimado Camarada
Transcrição:
Estimado Camarada Pinto Quartim
Que tenha regressado de saúde do seu estágio a reconfortar energias, são os melhores desejos dos libertários de Coimbra.
Acuso receber sua grata carta, escrita antes da sua partida, e junto Terra Livre cuja oferta agradecemos reconhecidamente, já porque nos veio reviver todo esse glorioso passado de luta, já porque veio ser um excelente auxiliar ao trabalho que com êxito contamos levar a efeito.
Temos resolvido tudo, contando já com imenso material informativo e original, mas ainda Longe dum trabalho completo, porque nem todos os velhos camaradas têm correspondido-ao nosso apelo. Escrevi ao velho camarada Amadeu Cardoso da Silva, do Porto, com quem em tempos me tinha correspondido, e recebi a carta devolvida com a dolorosa nota - Falecido. Fiquei profundamente impressionado. Vem a "talhe de foice" dizer ao camarada que só hã quatro anos me encontro em Coimbra, aonde regressei, depois de uma peregrinação de 12 anos e meio pelos cárceres fascistas - incluindo 9 anos e três meses no Campo do Tarrafal - onde tive a infelicidade de assistir à morte de camaradas valorosos como Mário Castelhano e Arnaldo Januário.
Vou entrar no assunto que me levou a escrever a presente carta: pedir ao camarada para nos fornecer todos os esclarecimentos possíveis para bom êxito do nosso trabalho. Decerto, na impossibilidade de nos ceder os jornais, revistas, folhetos e manifestos da infância do anarquismo em Portugal, agradecíamos que nos enviasse os seus títulos, grupos editores e ano de publicação. Em caso de envio de algumas publicações, nós nos responsabilizamos pela sua devolução sem qualquer desvio.
Pelo menos, desejaríamos o envio de um exemplar de cada jornal, porque tencionamos fotografar alguns. Em todo o trabalho que temos realizado, achamos um grande vácuo nas publicações de 1901 a 1910.
Teríamos interesse de consultar Guerra Social e alguns números d'O Protesto das duas séries, ou que nos informasse, se a 2a série do Protesto se publicou após a suspensão da Guerra Social.
Apesar de nesse sentido termos empregado os melhores esforços, não temos conseguido adquirir a colecção de A Sementeira, que seria um excelente elucidário sobre as publicações dessa época.
Como calculámos possuí-las, agradecíamos que nos prestasse os esclareci mentos seguintes: em que ano se publicavam os jornais - A Obra, de Lisboa; O Despertar, do Porto; Novos Horizontes, revista de Lisboa; Pão e Liberdade, jornal publicado pelo falecido camarada Emílio Costa ; Amanhã, porque julgamos errada a data de 1903 mencionada na Terra Livre. Desta revista, teríamos desejo que nos cedesse, por empréstimo, um exemplar afim de fotografar a capa. Igual pedido fazemos da Paz e Liberdade, caso a possuir.
Na bibliografia da Terra Livre, vem mencionados dois jornais sem localidade: O Petardo Anarquista, 1896, e O Agitador, 1885? Tendo ideia, se não estou em erro, de em 1911,se ter publicado-em-Lisboa-um semanário-com o título O Agitador. A Terra Livre, chegou a publicar os folhetos que anunciou - Escola para Operários, de Emílio Costa, e Neo-Maltusianismo, de Gaspar dos Santos? Os postais que publicou eram fotografias de camaradas, ou alegorias sobre o ideal?
Escrevemos à "Livraria Guimarães" para nos elucidar da data em que foram publicados os livros da "Colecção Sociologica",e não obstante ter-lhe enviado a importância para a resposta, não se dignou responder.
Numa lista à parte enviamos esses livros, caso o camarada os possua na sua biblioteca, seria favor pôr-lhe a data, bem como os do camarada Adolfo Lima, que desejamos incluir na bibliografia.
Quantos folhetos editou a "Brochura Social" e quais os seus títulos? Caso o camarada possua alguns folhetos repetidos, do Como não ser anarquista? e Entre Camponezes, agradecíamos o seu envio, agora com o objectivo de propaganda, porque o núcleo libertário luta com falta de literatura para esse fim.
Desculpe o camarada toda esta maçada, mas aproveitando esta tenebrosa época de inactividade, estamos empenhados em realizar um bom trabalho, com a ideia que melhores dias hão-de despontar em Portugal, e daremos então publicidade ao trabalho, num pequeno volume que constituíra um marco de referência para todos os estudiosos que desejem conhecer a história literária do movimento anarquista em Portugal.
Não obstante as dificuldades que nos oferecem em conseguir máquina para a manufactura da bibliografia, se nos fôr possível vencer essa dificuldade, ofereceremos um exemplar ao camarada.
Enviamos junto alguns jornais. Vai o jornal A Obra, da Argentina, de Fevereiro último, que insere as declarações de "Charlot", a que faz referência O número recente de Solidariadad Obrera. La Obra, como toda a numerosa imprensa anarquista argentina, publica-se clandestinamente, devido à ditadura Peron.
Aceite o estimado camarada, abraços espirituais dos libertários de Coimbra, e um especial do professor Almeida Costa
José de Almeida
Almeida, José de.José de Almeida parece ter escrito a data erradamente na carta, com 10. (Outubro) em vez de 11. (Novembro). O envelope indica 14.11.52; a carta foi recebida a 20 de novembro de 1952. O conteúdo desta carta e da carta de 20.10.1952 também apontam para a conclusão que esta carta é de novembro.
José Pacheco Pereira sugere esta teoria no texto dele no Boletim de Estudos Operários Número 4.
Transcrição:
Estimado amigo
e camarada Pinto Quartim
Acabo de receber sua carta, datada de 13, e já antes tinha recebido uma outra datada de 4, à qual não dei resposta imedaita pelo motivo de há dias me encontrar ausente de Coimbra, de visita a família que tenho na Guarda, e só regressei segunda feira, quando me foi entregue sua carta. Fui logo à delegação do Janeiro levantar os jornais e os livros que o amigo me enviou. Não pude fugir à tentação do interesse de ler dum trago os seus dois livros, cuja leitura me deliciou com algumas horas de prazer espiritual. A sua essência é bem uma critica às anomalias da sociedade burguesa; nas suas páginas brilha com fulgor o espírito crítico e combativo do anarquista às injustiças da sociedade. 300 Contos, e Mulheres são duas peças sociais de valor, que vêm enriquecer o teatro social, tão pouco cultivado no nosso país. Neste aspecto são ricos os camaradas brasileiros. Depois de os ter lido, já andam com maior interesse a ser lidos por outros camaradas, que se revelam encantados pelo desassombro das suas afirmações contra o pântano em que tanta gente chafurda. Agradeço profundamente a sua dedicatória. Temos, também, recebido os seus informes para o nosso trabalho, que estamos prestes a finalizar. Para findar com a maçada de tantos pedidos que lhe temos feito, agradecíamos, caso lhe seja possível, de nos fornecer sobre os livros que mencionamos de Hamon, que foram publicados após a Grande Guerra. São eles: O Movimento Operário na Grã-Bretanha, A Conferência da Paz e a sua Obra, e As Lições da Guerra Mundial. É claro que podem não ser obras essencial mente anarquistas, mas a sua publicação no nosso país, é sem dúvida fruto da actividade libertária em Portugal. Na bibliografia da Terra Livre, encontramos um livro com um título estranho que nos dá ideia de uma "ronda policial" - Um Chinês em Paris à procura do Comunismo. Conhece o camarada Quartim a essência deste livro, para que possa figurar na bibliografia anarquista? Como acima digo, com estes informes, terminamos as nossas perguntas ao camarada, a quem nos encontramos bastante reconhecidos pela sua valiosa cooperação ao nosso trabalho. Somos da opinião do camarada, de que os folhetos que cita deveriam ser fotografados, bem como A Revolução Social — o primeiro jornal anarquista que se publicou em Portugal. Era esse o nosso desejo, se possuíssemos um só exemplar, mas como consegui-lo ? Como em cartas anteriores lhe disse, foi-nos feito esse pedido pelos camaradas do C.R.I.A. Quanto aos jornais a enviar-lhe, cumpriremos o seu desejo. Estamos sempre a receber as nossas publicações de distintos países, como ainda agora sucedeu, mas só lhe enviaremos os que publiquem assuntos de largo interesse. Agradeço o envio de Vida Livre e Despertar que me fizeram reviver momentos agradáveis. Breve farei a sua devolução. Para terminar, informo-o que o número da minha residência é 11-2º, e não 22, como tem vindo, nas suas duas cartas, o que tem ocasionado o distribuidor da "ala pare" não ter encontrado o destinatário, como verifica pelo bocado do envelope junto. Aceite o camarada as fraternas saudações de todos os camaradas de Coimbra, com um especial abraço de Almeida Costa, e do camarada que o estima e admira
José de Almeida
Almeida, José de.Transcrição:
Camarada José d'Almeida
Agora que, com a ultima relação enviada ontem, a que se seguira a relativa a Teatro e Literatura, dou por cumprida a promessa que fiz de O auxiliar - auxilio que consistia em enviar-lhe as espécies bibliográficas que possuo — venho responder às várias perguntas de suas cartas. Antes porem quero pedir-lhe desculpa e da forma atabalhoada como me desempenhei da tarefa, devido o à desarrumação do meu arquivo e livraria como ainda ao tempo de que precisei para ler, visto que, tratando-se não de uma bibliografia social mas especificamente anarquista, muitas vezes tive necessidade de ler ou de reler certos livros, jornais, revistas, manifestos e folhetos. Vamos agora às suas perguntas. — Apesar de considerar Tolstoi um anarquista, nenhuma das suas obras devera em meu entender ser incluída numa bibliografia anarquista, porque nenhuma delas e de doutrina.
O mesmo penso das obras de Adolfo Lima . O seu trabalho propriamente anarquista encontra-se espalhado em jornais e revistas com o pseudónimo de João Branco. Os seus livros são sobre pedagogia, e, esta como ciência, não tem rotulo. O único livro que poderá figurar e a tese sobre "Organização social sindicalista", mas que não foi publicada com o seu nome. De Emilio Costa nem todos os seus trabalhos devem figurar. Os que entendo deverem ser incluídos, anotei numa das folhas que lhe mandei. O mesmo sucede com Campos Lima. Este teve pelo menos três jornais diários, com umas tinturas libertarias, mas não nitidamente. - Não conheço em português tradução de Como faremos a revolução de Pataud e Pouget. Tradução do Auxílio Mutuo, de Kropotkine, sei que existe, mas não tenho nem sei quem tenha e nunca vi. Parece-me que tambem existe uma tradução da Conquista do Pão, mas só conheço a da "Colecção Sociologica". Desta Colecção não consegui, nem mesmo com os editores, uma relação completa. Nem todos porem devem figurar na Bibliografia. Dei a nota dos que possuo e entendo poderem ser considerados anarquistas.
- A Terra Livre não chegou a publicar Escola para operários de Emílio Costa nem Neo-Malthustanismo de Gaspar Santos. Os postais publicados tinham uma alegoria e pensamentos (de Adolfo Lima, Neno Vasco, Pinto Quartim e Sobral de Campos.
- Das Figuras do Social so apareceu a primeira: Eliseu Reclus, de Emílio Costa.
- Sindicalismo e Socialismo, de Lagardelle, não conheço. Ha um folheto da "Biblioteca do Movimento Social" — Antiga Casa Bêrtrand, Lisboa, sem data, com esse título, le que insere artigos de varios, sendo um deles de H. Lagardelle intitulado Sindicalismo e Anarquismo.
- Não considero O anarquismo e a questão social de Antonio Serpa, uma obra que se salientasse no combate ao anarquismo. Pelo contrario. Tomando-o a serio, discute-o com muita correcção e sem acrimontia.
- Não conheço em português as Doze provas da inexistência de Deus, de Faure. Josê Oiticica é brasileiro. Não conheço o trabalho a que se refere editado em Portugal. Pertencera, portanto, a bibliografia anarquista brasileira.
- Educação e ensino - de Adolfo Lima e Ensino da Historia tem data de 1914, Karl Marx e Jean Jaures são biografias de socialistas autoritários. O Almanaque de Aurora foi publicado em 1912 mas para o ano de 1913 –
- Acção Directa e Acção Legal, conferencia de Emilio Costa, e de 1911.
- Não confundir as revistas Pão e Liberdade de Silva Junior com Amor e Liberdade. A primeira é de 1908, a segunda, de 1904. Revista com o título Pão e Liberdade não conheço, muito menos de Emílio Costa.
- A data certa da revista Amanha e 1909. Houve outra Amanha, de Campos Lima, 1922.
- Creio que da "Brochura Social" saíram só três folhetos, dá por mim indicados.
- A Obra de Lisboa não sei a data do primeiro número. Procurei e não consegui saber.
- O Despertar, do Porto, é de 1902. A revista de Lisboa Novos Horizontes
- Em 1911 houve em Lisboa um semanário anarquista em Lisboa com o título O Agitador. O Agitador de 1685 não conheço.
- Já fiz menção dos dois jornais de Coimbra Vida Livre e Despertar. Ficamos por aqui hoje. Isto tem de ser condicionado ao tempo disponível. Continuarei por estes dias.
Agradeço o envio dos jornais, mas E preferível enviá-los a quem mais necessite de os ler. Disponho, infelizmente, de muito pouco tempo para leitura de jornais. O material é tão escasso que é preciso aproveita-lo bem. Os novos carecem muito de leitura para conhecer o que pretendemos. As notas que envio não são para publicar. são indicações para si. No entanto, aproveite as que julgar uteis.
Saudações aos camaradas e um fraternal abraço do seu amigo e admirador
Transcrição:
Estimado camarada Josê de Almeida:
Satisfazendo no possível o seu desejo, vou enviar para a Delegação de O Primeiro de Janeiro dessa cidade, em seu nome, os números dos jornais Despertar e Vida Livre que possuo. Disse no possível porque não possuo todos. Mas quem da o que tem... Que eles não são dados mas emprestados pelo tempo de que necessitar. Seguem também dois opúsculos meus, mas que não são. para figurarem na bibliografia, pois pertencem ao numero dos tais, que do anarquismo só tem o espírito. É apenas como uma pequena lembrança que lhos remeto. Sobre a suspensão dos jornais que tão amavelmente me enviava, devo dizer-lhe que estimarei que envie aqueles que tragam algum artigo de grande actualidade, como por exemplo aquela entrevista do Charlot dada a um jornal ingres, Seguem as respostas às perguntas que me formulou:
— O Avante! — Diário operário da tarde — apareceu no dia 20 de Junho de 1919, em Lisboa. Era o seu director Carlos José de Sousa.
— O Proletariado Histórico, trad. de Alfredo Guerra, foi editado no Porto pela Biblioteca "A Comuna" mas não tem data. É uma compilação de documentos históricos.
— Não consegui ainda saber a data em que saiu o primeiro numero da Sementeira. Sei que durou de 1909 a Fevereiro de 1913 reaparecendo em Janeiro de 1916 acabando em Agosto de 1919. Foi seu director invariável Hilario Marques.
- E agora junte à relação de jornais ja enviada mais estes:
O Grito da Juventude — Órgão do Núcleo da Juventude Sindicalista do Porto – I. Nº I de Agosto de 1925 — Sec. redactor Ernesto Ribeiro A Nova Aurora - Quinzenário de propaganda social. Nº I: I° de Maio de 1919, Lisboa. Redactor-principal: José dos Santos. Este jornal publicava uma pagina com o título A Verdade - Órgão das Juventudes Sindicalistas. Redactor principal: Cristiano Lima. Eram dois jornais num só. - Junto uma nota de algumas das mais antigas publicações nacionais anarquistas. Destas é que seria na verdade interessante fazerem-se gravuras, pois são tão raras que daqui e alguns anos não haverá delas nem rasto. O meu caro José de Almeida dispõe de mim para o que quiser. Faça as perguntas que quiser, que eu procurarei responder. Mas com a condição de não me ser exigida pressas. Aos camaradas de Coimbra, e particularmente ao prof. Costa, agradeço as suas saudações e retribuo com a mais viva simpatia.
Para o meu, caro José de Almeida vai um fraternal abraço. Sempre ao seu dispôr
No Espólio de Jaime Batalha Reis, depositado na Biblioteca Nacional, no Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea, existem perto de 600 cartas de Jaime Batalha Reis para Celeste Cinatti. Da extensa correspondência trocada entre ambos a que resta é, na sua quase totalidade, da autoria do primeiro. A sua filha mais nova, Beatriz, que organizou o Espólio do pai, explica a razão. A mãe, antes de morrer, pedira ao marido que queimasse as cartas que lhe escrevera. Jaime Batalha Reis hesitou, hesitou durante trinta anos. Foi só nesse ano de 1930 que as releu, confidenciando às filhas:"[...] sinto-me tão enamorado dela como estava então". Conta Beatriz que "a voz se lhe embargou e os olhos se lhe encheram de lágrimas." Como última prova de amor fez-lhe a vontade. Queimou-as quase todas, deixando apenas poucas e de difícil leitura. O critério que nos norteou na escolha das duzentas e trinta e seis cartas agora colocadas ao dispor dos investigadores, foi o de dar a conhecer algumas das que nos pareceram mais significativas para a caracterização dos sentimentos, hábitos e pensamento da burguesia de meados do século XIX. Foi possível fixar a data do início da correspondência, até agora em dúvida, graças a uma carta de Celeste Cinatti - das poucas que se salvaram - a partir da qual podemos datar de 1868 o início da relação epistolar.
Todas as cartas estão numeradas de 1 a 236. Foram transcritas na íntegra, embora oito estejam incompletas. Existem muitas fragmentadas, outras delidas pelo tempo, cuja leitura é ininteligível. A transcrição apresentou diversas dificuldades em relação à escrita, frequentemente cruzada, isto é, escrita à largura do papel sobrepondo-se a continuação na vertical. A datação apresentou também alguns problemas, pois poucas cartas foram datadas pelo autor. Em muitos casos, a datação é da nossa responsabilidade baseada em acontecimentos ou actividade de personalidades nelas referidas e, então, aparece entre parênteses rectos. A falta de indicadores credíveis levou-nos, com frequência, a interrogar a datação. O local de emissão mereceu tratamento idêntico, pois quando a atribuição é nossa, também aparece entre parênteses rectos ou interrogado. Na cabeça da carta, além do número, à esquerda, aparece, à direita uma letra, e um conjunto de algarismos. Trata-se da cotação do documento: E4 designa Espólio de Jaime Batalha Reis; o número que se lhe segue, 57, 58, 59 ou 60, corresponde ao número das caixas onde as cartas estão guardadas, os dois seguintes representam a pasta e a posição da carta dentro desta. Exemplo: E4/57-1 (3). O investigador notará que as cotas das cartas não são sequenciais pois a organização inicial dispersou a maior parte delas, mantendo juntas apenas aquelas em que o autor designava o local donde tinham sido enviadas ou as que referiam um acontecimento relevante. A ortografia foi actualizada e os erros e lapsos corrigidos, o que sempre se assinalou. Moderou-se a pontuação e abriram-se alguns parágrafos.
Cabe-me agradecer ao Doutor Marques da Costa, um dos primeiros investigadores a interessar-se por Jaime Batalha Reis, o ter-me facultado as cartas que já havia transcrito. E, finalmente, a minha gratidão à Doutora Filomena Mónica que, com o seu incitamento, ralhetes e empurrões me levou a terminar um trabalho iniciado há muitos anos e constantemente interrompido.
Maria José Marinho
Lisboa, Dezembro, 2006
Transcrição digital de diversas obras inéditas escritas por Francisco Santos Serra Frazão. Nomeadamente, A Reabilitação dos Negros (1942); Da Vida Afectiva e Sentimental dos Negros de Angola: Apontamentos Etnográficos (1945), parcialmente publicada no Mensário Administrativo; Ovihemba: A arte de curar entre os Negros de Angola, Apontamentos etnográficos (1945); Amuletos e Feitiços: Breves apontamentos etnográficos sobre os povos de Angola (1946); Da Vida e Morte dos Negros de Angola: Estudos Etnográficos dos Povos Angolanos (1946); Poemas de Gente Negra: Cenas da Vida Africana (1946).
Frazão, Francisco Santos SerraApontamentos etnográficos.
Estudos Etnográficos dos Povos Angolanos.
Série de transcrições de entrevistas (e cassetes respetivas) sobre a descolonização portuguesa de 1974/1975, a protagonistas desse processo: por um lado, governantes, chefes militares, dirigentes do MFA e outros que então actuaram na Guiné-Bissau, em Cabo Verde, Angola e Moçambique; por outro lado, responsáveis metropolitanos ou íntimos colaboradores seus. A equipa, coordenada por Manuel de Lucena, incluia os investigadores Maria de Fátima Patriarca, Carlos Gaspar, Luís Salgado de Matos. Desenvolvido no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, o projecto foi apoiado pela Fundação Oriente.
"Não procurando promover qualquer interpretação, chegar a juízos gerais ou encerrar os eventos abordados numa dada problemática, o grupo entrevistador foi seguindo os relatos e aceitando as visões dos seus interlocutores, embora não deixasse de lhes solicitar esclarecimentos por vezes incómodos."
"introdução", por Manuel de Lucena
Antero Leal Marques (1880-1969) foi chefe de gabinete de Oliveira Salazar entre 27 de Abril de 1928 e 28 de Agosto de 1940, tendo sido um dos primeiros e mais íntimos colaboradores de Salazar, primeiro, no Ministério das Finanças e, depois, na presidência do ministério. Escreveu um curtíssimo «Diário», manuscrito, que tem por objecto a formação do primeiro governo de Salazar, em Julho de 1932. Esse documento, um volume com 64 páginas, foi doado por Henrique José Monteiro Chaves ao Arquivo de História Social.
O fundo contém ainda fotocópias de condecorações entregues pelo Estado Português e Espanhol a Antero Leal Marques (1930-1934) e outra documentação de apoio à investigação produzida por Henrique Chaves (Fotocópias e transcrições do manuscrito).
Marques, Antero Leal.Apontamentos etnográficos.
Transcrição:
"Vou-lhes contar meus senhores
Uma história que surgiu
Pois não foi só Nossa Senhora
Que sendo virgem, pariu.
Pois bem perto de Todela
Há uma santa como ela
Que é a Santa Comba Dão
Que foi parir numa gruta
O maior filho da puta
Que apareceu cá na Nação.
Neste país de [?]
De festas e arraias
Em que se condecoram os putos
E se demitem generais."